Todos estamos assustados e empáticos com o que o Rio Grande do Sul vem vivendo. No nosso site estamos fazendo uma manifestação da nossa solidariedade através do escrito da nossa parceira gaúcha, Fátima Sudbrack. Leia e deixe sua mensagem. O site também é seu!
Em nome e, a pedido da coordenação deste Coletivo, como gaúcha, venho expressar solidariedade aos conterrâneos do nosso amado Rio Grande do Sul, pela dor que ainda vivemos nestes difíceis momentos a partir das enchentes que assolaram o território riograndense.
Esta comunicação sai do fundo do meu coração sofrido e inquieto por toda nossa gente da qual me senti, ainda mais próxima, neste contexto. Mesmo há mais de 30 anos residindo em Brasília, foi no Rio Grande do Sul que passei minha infância, juventude, formação universitária e dez anos de minha carreira profissional, casamento e primeira filha, em cidades gaúchas que foram atingidas pelas enchentes e deslizamentos. Familiares meus e da família de meu marido residem e construíram suas trajetórias de vida exatamente nos municípios mais atingidos pela inundação de Porto Alegre, do Vale do Taquari e pelos deslizamentos na região serrana de Bento Gonçalves e arredores.
Neste duplo papel de representante do Coletivo Intercambiantes Brasil, mas também identificada com o povo gaúcho, passo a compartilhar minha compaixão enquanto vítimas dessa verdadeira tragédia que nos abalou profundamente e que terá ressonâncias em nossas vidas pessoais, mas, sobretudo, em nossa identidade comunitária e social, pelo forte apego que temos ao nosso chão que chamamos tão carinhosamente de “pago gaúcho”. Assim, ver a destruição de uma cidade como Porto Alegre ou Lajeado me passa muito mais do que uma tristeza estética ou material pela perda de casas, pontes, lugares lindos que, de repente, se tornaram verdadeiros córregos de lama e de destroços que a força das águas levou sem piedade. Vivemos aqui, um verdadeiro luto social por vidas e por histórias de vida que estão por trás de qualquer bem material que se construiu com o esforço do trabalho e com o gosto do bem viver em família, em comunidade. É como se este mar de lama levasse e arrastasse a identidade destes espaços urbanos ou rurais que escolhemos e que também construímos como lugar para viver.
O que representa para cada um de nós viver tantas perdas?
Como suportar este luto de um lugar, desta terra, deste chão que tanto amamos e exaltamos:
“É o meu Rio Grande do Sul, céu , sol, Sul, terra e cor! Onde tudo o que se planta cresce e o que mais floresce é o amor. Nesta canção dizemos ainda que queremos mostrar para quem quiser ver, um lugar prá viver sem chorar..."
Um coral paranaense expressou lindamente sua solidariedade numa canção que me fez chorar e que termina assim: a Fé de nossa gente é bem maior que a enchente!
Com tantos desafios pela frente, o caminho será pela reconstrução e pelo empoderamento do povo gaúcho através da solidariedade vinda de todos os cantos do País e de tantos lugares do mundo. Esta reconstrução vai demandar um processo de elaboração de tantas perdas e lutos. Testemunhamos a força das impressionantes ações humanitárias que resultaram em resgates para salvar tantas pessoas de um inesperado e inusitado naufrágio, em plena cidade. Vamos esperançar – no sentido de Paulo Freire – que toda esta energia coletiva e também pessoal de cada pessoa atingida pela enchente, se amplie em forças de ressonância positiva, trazendo resiliência para as buscas de recursos internos de reparação e de ressignificação desta vivência tão sofrida de tantas pessoas e comunidades.
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