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ADOLESCÊNCIA, ISOLAMENTO SOCIAL, SAÚDE MENTAL E USO DE DROGAS NA PANDEMIA DE COVID-19

Atualizado: 18 de nov. de 2022


Devido ao aumento no número de casos e mortes por COVID-19 (SARS-CoV-2), em março de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou estado de pandemia após a disseminação da doença em todo o mundo. Diante deste cenário, medidas de segurança como o isolamento social foram implantadas a fim de conter a disseminação do vírus. Frente a este contexto estressor de alto risco à saúde, intensas transformações e consequências socioeconômicas, mudanças de rotina, distanciamento social, privação de relações interpessoais e de restrição de atividades escolares/acadêmicas, laborais e de lazer, diversos efeitos adversos à saúde mental e impactos psico-comportamentais foram observados. Há evidências que indicam aumento de sentimentos de solidão, medo, raiva, tristeza, confusão, incerteza e desânimo em relação ao futuro. Na mesma direção, pesquisas indicam a ocorrência de agravos em diversos quadros de saúde e transtornos psicológicos durante o período de isolamento, tais como estresse, ansiedade, distúrbios de sono, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares, entre outros (Garrido & Rodrigues, 2020; Morais & Miranda, 2021; Oliveira et al., 2020). Em vista disso, a atenção e o cuidado à saúde mental se tornaram ainda mais importantes e necessários, especialmente no que se refere ao público adolescente, visto que se trata de uma população ainda em fase de desenvolvimento neurocognitivo, emocional e social e que, por essa razão, está potencialmente mais vulnerável ao sofrimento psicológico neste período (Miliauskas & Faus, 2020; Oliveira, Silva, Andrade, De Micheli, Carlos, & Silva, 2020).


Com a nova realidade instaurada pela pandemia, as pessoas passaram a vivenciar novas experiências e enfrentar novos desafios, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes, que, além do confinamento e da privação ambiental e social, podem estar mais sujeitas a negligência e violências diversas, experimentando sentimentos de solidão, medo, tédio e desesperança. Com isso, estes indivíduos se encontram em uma condição de maior vulnerabilidade individual, familiar e social que pode predispor ao desenvolvimento de transtornos relacionados a estresse, ansiedade, depressão, uso prejudicial e dependência de substâncias, entre outros problemas de saúde (Bilginer et al. , 2021; Dellazzana-Zanon, et al., 2020; Guessoum et al, 2020; Nearchou et al., 2020; Singh et al., 2020).


Ainda são escassas as pesquisas relacionadas à saúde mental e o uso de substâncias por adolescentes na pandemia, no entanto, pesquisadores como Bombardelli, Ceolin e Weber (2020) ressaltam que “os jovens tendem a enfrentar o ‘mal-estar na civilização’ por meio de estratégias que envolvem, inclusive, o consumo de substâncias psicoativas”. Tal como em relação à população geral, os dados sobre indicadores de saúde mental e uso de drogas entre adolescentes ainda são inconclusivos ou até mesmo divergentes, mostrando variações diversas que vão da redução ao aumento no consumo de um ou mais tipos de substâncias (Chiappini et al., 2020; Melamed et al., 2020; Stanton et al., 2020). O fato é: o cenário pandêmico, além de criar novos fatores de risco, ampliou significativamente os preexistentes, potencializando assim as circunstâncias de vulnerabilidade que podem predispor ao consumo de drogas e aos possíveis riscos e danos associados (OMS, 2020; Sarvey & Welsh, 2021).


Veja a seguir uma relação de alguns estudos que avaliaram os indicadores de saúde mental e os preditores e padrões de uso de álcool e outras drogas entre adolescentes e jovens durante a pandemia de COVID-19:


  • Adolescent drug use before and during U.S. national COVID-19 social distancing policies (Miech et al., 2021);

  • Adolescent substance use: Challenges and opportunities related to COVID-19 (Sarvey & Welsh, 2021);

  • Adolescents' Substance Use and Physical Activity Before and During the COVID-19 Pandemic (Chaffee et al., 2021);

  • Harm Reduction for Adolescents and Young Adults During the COVID-19 Pandemic: A Case Study of Community Care in Reach (Noyes et al., 2021);

  • Impacts of COVID-19 on Youth Mental Health, Substance Use, and Well-being: A Rapid Survey of Clinical and Community Samples (Hawke et al., 2020);

  • Loneliness, Mental Health, and Substance Use among US Young Adults during COVID-19 (Horigian et al., 2021);

  • Mental Health of Children and Adolescents Amidst COVID-19 and Past Pandemics: A Rapid Systematic Review (Meherali et al., 2021);

  • What Does Adolescent Substance Use Look Like During the COVID-19 Pandemic? Examining Changes in Frequency, Social Contexts, and Pandemic-Related Predictors (Dumas et al., 2020).


Para mitigar os efeitos negativos da pandemia na saúde mental de crianças, adolescentes e jovens, são necessárias medidas educativas, preventivas e promotoras de saúde. Essas estratégias devem auxiliar os adolescentes a enfrentarem a fase complexa de desenvolvimento psicobiológico, sobretudo em um contexto estressor e de constantes transformações e impactos sociais, com ênfase na disponibilização de recursos protetivos e de estratégias assertivas de enfrentamento através de educação emocional positiva, suporte social e desenvolvimento de autoeficácia para o enfrentamento ativo do estresse. Tais estratégias e recursos são importantes fatores de proteção à saúde mental infanto-juvenil e podem contribuir para o desenvolvimento cognitivo-sócio-emocional dos adolescentes e, por conseguinte, melhores indicadores de qualidade de vida e bem-estar (Budimir et al., 2021; Canavez et al., 2010; Hussong et al., 2021; Pigaiani et al., 2020). Para tanto, Miliauskas e Faus (2020) destacam que “familiares, educadores, profissionais de saúde, artistas e governantes podem contribuir de forma ativa no enfrentamento do adoecimento mental de adolescentes, enfatizando que distanciamento social deve ser físico, e não emocional”.


Por fim, em consonância com Bombardelli et al. (2020), ressalta-se que a saúde mental e o uso de substâncias por adolescentes no contexto de pandemia devem ser compreendidos em suas totalidades, levando em consideração a complexidade do assunto e as singularidades dos indivíduos. Ações de educação para as drogas e prevenção de riscos e danos devem ser pensadas considerando as diferentes realidades e relações estabelecidas pelos sujeitos com as substâncias psicoativas, focalizando a promoção de uma ampla rede de apoio emocional com o intuito de minimizar os impactos causados pela COVID-19.


 

SOBRE OS AUTORES:


Lidiane dos Santos Souza: Graduanda em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).


Richard Alecsander Reichert: Doutorando em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pesquisador na área de Medicina e Sociologia do Abuso de Drogas. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7744495824597038


Denise De Micheli: Doutora em Psicobiologia e Pós-Doutora em Ciências. Professora Associada da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2246867228137055

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