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DESAFIOS DA UNIDADE DE ACOLHIMENTO INFANTOJUVENIL LUIZ MARIANO NETO NO ATUAL CENÁRIO DA RD NO BRASIL

É de Alagoas, é do Centro de Acolhimento InfantoJuvenil, é de uma intercambiante este precioso texto que agora vamos apresentar a vocês no nosso Blog: DESAFIOS DA UNIDADE DE ACOLHIMENTO INFANTOJUVENIL LUIZ MARIANO NETO NO ATUAL CENÁRIO DA REDUÇÃO DE DANOS NO BRASIL.


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Relatar a experiência, utilidade e funcionalidade dos serviços prestados nas Unidade De Acolhimento Infantojuvenil (UAI´s), mais especificamente aqueles prestados na UAI Luiz Mariano Neto, com enfoque no Projeto Terapêutico Singular – PTS. As Unidades de Acolhimento Infantojuvenil foram instituídas pela Portaria nº 121, de 25 de janeiro de 2012, como componente residencial transitório da Atenção Psicossocial para sujeitos com problemas decorrentes do uso e abuso de álcool e outras drogas, em acentuada vulnerabilidade familiar, social e que demandam ações terapêuticas e protetivas. A referida norma foi editada visando resguardar crianças e adolescentes entre 10 e 18 anos incompletos de ambos os sexos, cujo período de permanência nestas unidades deve perdurar por até seis meses, em caráter voluntário, em regime de funcionamento diário e durante as 24 horas do dia. Trata-se de um relato de experiência sobre a aplicação e efetivação do PTS direcionado à redução de danos à saúde decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas entre crianças e adolescentes. Trabalhamos o PTS através de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou coletivo. No Projeto Terapêutico Singular observamos as seguintes orientações: I - acolhimento humanizado, com posterior processo de grupalização e socialização, por meio de atividades terapêuticas e coletivas; II - desenvolvimento de ações que garantam a integridade física e mental, considerando o contexto social e familiar; III - desenvolvimento de intervenções que favoreçam a adesão, visando à interrupção ou redução do uso de crack, álcool e outras drogas; IV - acompanhamento psicossocial ao usuário e à respectiva família; V - atendimento psicoterápico e de orientação, entre outros, de acordo com o Projeto Terapêutico Singular; VI - atendimento em grupos, tais como psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, assembleias, grupos de redução de danos, entre outros; VII - oficinas terapêuticas; VIII - atendimento e atividades sociofamiliares e comunitárias; IX - promoção de atividades de reinserção social; X - articulação com a Rede intersetorial, especialmente com a assistência social, educação, justiça e direitos humanos, com o objetivo de possibilitar ações que visem à reinserção social, familiar e laboral, como preparação para a saída; XI - articulação com programas culturais, educacionais e profissionalizantes, de moradia e de geração de trabalho e renda; e XII - saída programada e voltada à completa reinserção do usuário, de acordo com suas necessidades, com ações articuladas e direcionadas à moradia, ao suporte familiar, à inclusão na escola e à geração de trabalho e renda. Junto ao acolhido montamos a estratégia de cuidados, enfatizando potencialidades e enfraquecendo laços com comportamentos da rua e do uso e abuso de Substancias Psicoativas - SPA. Na nossa proposta de trabalho está contemplado também o Projeto CRIAR – que são oficinas de geração de renda e aprendizagem que possibilita aos jovens acolhidos conhecer e aprender nos grupos ofertados. As oficinas são em culinária e marcenaria onde produzimos biscoitos, salgadinhos e peças em madeira de pinus para decoração e uso doméstico. Todo maquinário foi ofertado inicialmente pela prefeitura municipal e o valor arrecadado nas vendas dos produtos são divididos entre os envolvidos e os materiais de cada oficina. Os jovens utilizam o dinheiro recebido pela sua produção para diversos fins como cortar cabelo, comprar roupa ou calçado, fazer uma poupança para ter uma boa quantia no fim do acolhimento, ajudar seus familiares em alguma despesa de suas residências e até adquirir algum presente em datas comemorativas. Todo esse processo ocorre com uma ampla discussão entre o coletivo para eleger e discutir as prioridades diante da realidade de cada um. Participamos frequentemente de feiras particulares, exposições públicas e eventos acadêmicos. Trabalhar com oficinas profissionalizantes é uma forma de manter os adolescentes e jovens ocupados e despertar o interesse dos mesmos em outras ocupações, diminuindo a atratividade das drogas. Essas oficinas de culinária e marcenaria, podem ser intercaladas de acordo com a demanda, visando atender as expectativas dos usuários quanto aos serviços ofertados e procurando fazer um planejamento participativo em que a população alvo possa participar, explicitando quais seus interesses. Sem esquecer do caráter informativo que é de suma importância levar aos jovens e fazê-lo de forma dialética. Tais projetos visam a diminuição do uso de drogas lícitas e ilícitas, usando atividades e oficinas com o intuito de promover a autonomia desses adolescentes e jovens, ampliando seu conhecimento e suas opções para o futuro, capacitando-os por meio do trabalho, com o objetivo de alcançar sua independência futura e sua reabilitação psicossocial junto à comunidade. Todas as propostas são formuladas com envolvimento total com a comunidade e com os locais onde esses jovens devem estar e circular. Buscamos reaver e motivar os acolhidos na retomada do vínculo com a escola que, em sua maioria está rompido diante das dificuldades vivenciadas, com vistas a retomada dessa formação escolar. Além disso, somos usuários da academia da saúde e frequentamos toda a estrutura que a rede municipal nos oferece em cada especialidade das secretarias – esporte, cultura, saúde, assistência social, educação, indústria e comercio e outras que somem na nossa trajetória. Despertar o interesse de jovens e adolescentes em atividades físicas, intelectuais e profissionalizantes diminuirá relativamente seu interesse pelas drogas; mantê-los ocupados e interessados em algo saudável fará com que eles tenham uma visão de futuro, uma expectativa, planos e consequentemente diminuirá o espaço que as drogas poderão ocupar nesses planos para o futuro. As bases que regulam a rede de atenção psicossocial são o respeito aos direitos humanos, assegurando a autonomia, a liberdade e o livre exercício da cidadania, promovendo a equidade e reconhecendo os fundamentos sociais da saúde, sob a ótica interdisciplinar. Já a Redução de Danos é definida como programa e política que visa reduzir os efeitos danosos do uso de drogas para pessoas, famílias e comunidades nos aspectos sociais, econômicos e de saúde. A Redução de Danos é uma ferramenta de cuidado articulada com as ideias de atenção integral, caracterizando-se como um instrumento que amplia o acesso e a adesão ao cuidado. Entretanto, para a população infantojuvenil, essa estratégia é vista de uma maneira muito controversa por parte de alguns profissionais. A redução de danos, aplicada no intervalo do uso, busca-se introduzir outro objeto além da droga, é uma tentativa de deslocar o objeto “droga”, tirando o foco desta. Pensar redução de danos com jovens e crianças deve caminhar na direção de se fazer uma intervenção precoce antes do período crítico e a UAI surge nesse momento como uma ferramenta potente de mudanças de vidas.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


Brasil. Ministério da Saúde. (2010). Diretrizes Nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. Brasília: Ministério da Saúde.


Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 121, de 25 de janeiro de 2012. Disponível em: http://www.saude.gov.br


Machado, L. V., & Boarini, M. L. (2013). Políticas sobre drogas no Brasil: a estratégia de redução de danos. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3),580-595.


Schenker, M.., & Cavalcante, F. G. (2015). Vulnerabilidade, Família, Abuso, Dependência de Drogas e Violência. In E. A. Silva., Y. Moura., & D, K. Zugman (Eds.), Vulnerabilidades, Resiliência e Redes: Uso, abuso e dependência de drogas. São Paulo: Red Publicações.

 

SOBRE A AUTORA:


Ana Adélia Melo Rocha: Psicóloga, Especialista em Dependência Química, Psicologia Jurídica, Psicologia Hospitalar e Cuidados Paliativos. Atuante da Rede de Atenção Psicossocial e na Redução de Danos. Atualmente é coordenadora da Unidade de Acolhimento Luiz Mariano Neto de Campo Alegre – Alagoas. Defensora do SUS e da Luta Antimanicomial!

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