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ENTRE SUBSTÂNCIAS E SENTIDOS: UMA ANÁLISE SOBRE O CHEMSEX

Existe a possibilidade de optarmos pelo uso de substâncias psicoativas ?


Sim! Claro que existe!


Uma das possibilidades é na prática que chamamos de “Chemsex”.


No texto que apresentamos hoje nossa parceira Marlene Barreto fala sobre essa prática e sobre os cuidados que devemos ter quando estamos dentro dela.


Leia, comente… pergunte.


A equipe do Blog.


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O fenômeno conhecido como chemsex  termo derivado da expressão chemical sex  refere-se a prática do uso intencional de substâncias psicoativas previamente, durante ou imediatamente antes de relações sexuais, com o intuito de potencializar o prazer, prolongar o ato e facilitar a desinibição. Embora amplamente associado a populacoes especificas, como homens que fazem sexo com homens (HSH), o chemsex nao se restringe a esse grupo, sendo observado em multiplos contextos socioculturais e urbanos contemporâneos.


O uso de substâncias com fins sexuais não é um fenômeno recente. Desde a Antiguidade, há registros do emprego de afrodisíacos e outros compostos psicoativos como recursos para intensificar a libido e o desempenho sexual. No entanto, a consolidacao do termo chemsex ocorreu nas primeiras decadas do seculo XXI, sobretudo a partir das contribuições de David Stuart, em Londres, para descrever um conjunto de práticas emergentes em contextos urbanos ocidentais marcados pela disponibilidade de novas substâncias sintéticas e pelo uso de aplicativos digitais de encontros. A incorporação dessas práticas a circuitos festivos e redes sociais contribuiu para sua difusão global.


Entre as substâncias comumente associadas ao chemsex destacam-se a metanfetamina, o gama-hidroxibutirato(GHB/GBL), a mefedrona, a ketamina, a cocaína e os poppers. Tais substâncias podem ser administradas por diversas vias, incluindo a via intravenosa, prática nesse caso  denominada slamming,  que exige atenção no que tange a segurança e a prevenção de infecções.


A prática do chemsex envolve diversos riscos que impactam tanto a saúde física quanto a mental. Entre os principais, destacam-se a possibilidade de intoxicação aguda, overdose e até morte em decorrência do uso excessivo de uma ou mais substâncias psicoativas. O consumo frequente e em altas doses pode levar ao desenvolvimento de tolerância e sintomas de abstinência. Além disso, são comuns situações de crise psicológica, como sentimentos de arrependimento, culpa, depressão, baixa autoestima, delírios, alucinações e até episódios de psicose. O chemsex tambem esta associado ao aumento da vulnerabilidade a infeccoes sexualmente transmissiveis, bem como a lesoes nas regioes anal e genital, provocadas pela reducao da percepcao de dor causada por efeitos anestesicos de certas drogas. Muitas pessoas relatam dificuldades em manter relações sexuais sem o uso de substancias, o que pode perpetuar o ciclo de dependência. Também são frequentes relatos de abusos e agressões sexuais ocorridos durante esses episódios. Por fim, a prática pode comprometer significativamente o desempenho em atividades cotidianas, favorecendo o isolamento social e o agravamento de quadros de sofrimento psíquico.


A abordagem contemporânea do chemsex exige uma perspectiva que vá além da mera condenação moral ou da patologização automática dos sujeitos envolvidos. Considerando-se os múltiplos fatores que contribuem para essa prática  como a busca por prazer, a socialização, a afirmação de identidades e a superação de estigmas sexuais, torna-se necessário o desenvolvimento de estratégias de saúde pública pautadas em princípios da redução de danos, da escuta qualificada e do respeito à autonomia dos sujeitos.


Dentre as principais estratégias preventivas e de cuidado, destacam-se:


  • Educação em saude e informação acessível sobre os efeitos, interações e potenciais consequências do uso de substâncias;


  • Apoio a testagem regular para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), com incentivo ao uso de preservativos e ao acesso a profilaxias pré e pós-exposição (PrEP e PEP);


  • Distribuição de insumos seguros, como seringas e agulhas estéreis, nos casos em que a prática de slamming, está presente;


  • Promoção de práticas de cuidado mútuo entre parceiros, incentivo ao planejamento do uso (doses, pausas e limites) e a comunicação clara sobre consentimento e segurança;


  • Acesso a serviços de saúde acolhedores e não punitivos, integrando ações em saúde sexual, saúde mental e uso de substâncias;


  • Atenção à hidratação, alimentação e descanso, visando minimizar efeitos adversos físicos decorrentes do uso prolongado.


Reconhecer o chemsex como um fenômeno multidimensional  que envolve questões de prazer, vulnerabilidade, identidade, cultura e saúde é fundamental para a formulação de respostas éticas e eficazes. Intervenções meramente repressivas, ao invés de reduzir danos, podem aumentar a invisibilidade e o sofrimento dos sujeitos envolvidos, afastando-os dos serviços e dificultando o cuidado integral.


Por fim, reforça-se a necessidade de investimentos em formação de profissionais da saúde sobre o tema, bem como a realização de pesquisas qualitativas que aprofundem o conhecimento sobre os contextos, motivações e experiências das pessoas que praticam chemsex. Só assim será possível construir políticas públicas e práticas clínicas baseadas em evidências, respeito e compromisso com os direitos humanos.


SOBRE A AUTORA:


Marlene Barreto Santos: Psicanalista, Docente e Pesquisadora CNPq; Mestre em Educação; Especialista em Psicologia da Educação; Docente da Graduação e da Pós-graduação da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP).

 
 
 

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