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OS SEIS ANOS DO COLETIVO CAFÉ COM ESCUTA

Atualizado: há 1 dia

ESCUTAR é estar atento para ouvir, é considerar o outro e o que ele está dizendo.


O “Café com Escuta“ no DF está vivo!


Essa experiência, apresentada aqui pela Márcia Lins Caldas, nos mostra um trabalho cuidadoso e de continuidade.


Venha conhecer através deste texto apresentado ao nosso blog.


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É necessário iniciar a retrospectiva do Café com Escuta, agradecendo as Pessoas em Situação de Rua do Setor Comercial Sul do Distrito Federal  pelo  acolhimento e confiança, que apesar da natural  desconfiança em relação a pessoas  não pertencentes ao território, vínculos foram se construindo paulatinamente, desde o primeiro dia, em 31/07/19.

 

Realizou-se  a escuta  de aproximadamente  treze pessoas, em frente ao Centro de Atenção Psicossocial do Setor Comercial Sul - CAPS AD III Candango -24 horas, onde todos eram frequentadores do CAPS: onze homens usuários de álcool e outras drogas e duas mulheres-  uma delas  se encontrava em situação de rua e a outra fazia uso abusivo de álcool e outras drogas.


Dispomos de uma mesa, duas cadeiras, um cartaz escrito “Contação de histórias” e oferecimento de bolo e café.


Inicialmente fomos convidar pessoas que se encontravam próximas, sentadas em um banquinho, em frente ao serviço de saúde, para participarem da atividade. 

Combinou-se que a atividade seria sempre em um determinado dia da semana e horário.  Sugeriu-se que  criassem histórias fictícias ou  falassem livremente sobre o que desejassem contar.  A ideia era de preservar o respeito pela privacidade de cada pessoa.


Aos poucos as pessoas se aproximavam, alguns se achegavam mais rapidamente e outras não.  Apresentavam-se com suas singularidades e suas histórias de vida. O discurso quase sempre único, demonstrava o desejo de  falar sobre si  e não sobre histórias fictícias, como havia sido solicitado pelo grupo, que havia chegado ao território,  acreditando que  a melhor maneira de se vincular com a população que se encontrava na rua, seria a produção  de um filme a partir dessas escutas, que seria exibido no final do ano para e com eles. Percebeu-se que a atividade só caminharia se o grupo seguisse o fluxo dos afetos da e com a rua, sem forma previamente estabelecida.


Algumas pessoas ficavam distantes e trocando palavras de longe com o grupo de escutantes, porém à medida que tomavam conhecimento do que era realizado no local, acerca da atividade, aproximavam-se devagar pela construção da confiança.


Cada pessoa trazia várias histórias, muitos falavam ao mesmo tempo e sem entrar em detalhes. Salientando que as trocas de afetos e  a confiança foram fortalecendo os vínculos que se estabeleciam com o passar do tempo. E ainda em 2019, com as escutas frequentes e contínuas no território,  a  partir  das trocas realizadas em cada encontro, apresentava-se  a possibilidade de se construir uma rede de relações com cada pessoa, que foram  se solidificando.


Com o início da pandemia, em março/20, houve mudanças das pessoas  da equipe que integravam o coletivo, depois do intervalo de três meses, quando houve o retorno, muitos tinham receio de voltar ao território e  outros não mais participaram.


O coletivo é composto de estudantes, residentes, voluntários e outros. E em geral,  aqueles que conseguem permanecer por um tempo maior  na atividade são os que mergulham na troca de afetos, nos sentimentos,  na emoção,  chegando mesmo a uma  visceralidade nas relações com as pessoas em situação de rua.


As pessoas em situação de rua começam a fazer parte da vida dos escutantes!


O local onde é realizada a atividade no SCS, durante esses seis anos, sofreu diversas alterações e por vários motivos, saindo de espaços considerados como “perigosos” e que poderiam trazer mais problemas para as pessoas em situação de rua, principalmente por questões higienistas.  Porém, sempre se manteve na região próxima a uma praça e ao CAPS AD, onde concentra muitas pessoas em situação de rua e é um local de grande circulação desse público.


O coletivo, desde o início, tem tentado vincular todos os equipamentos do território com o objetivo de fazer com que as políticas públicas existentes para as pessoas em situação de rua cheguem a esse público. Diversos  equipamentos e instituições vêm colaborando  de alguma maneira: CAPS AD III- Candango, Equipe do Consultório na Rua, Abordagem Social, No Setor, Movimento da  População em Situação de Rua, Defensoria  Pública-DF, Ministério Público do DF, OAB DF- DH e outros.7


É  através de uma escuta sensível com o menor julgamento moral possível, que se possibilita o conhecimento dos desejos,  necessidades e angústias.  Na verdade, o Café com Escuta vem atuando no gap (quebra de continuidade) das políticas públicas,  fato  complicado, pois os vínculos se estabelecem e  as pessoas  procuram e desejam respostas, que muitas vezes o grupo não tem, apenas indicativos do que pode ser feito dentro das políticas. 

Verifica-se uma grande dificuldade de implementação  das políticas públicas já existentes, pois são elaboradas, implementadas e fiscalizadas sem a participação das pessoas em situação ou com trajetória de rua e sem os gestores pisarem ou acompanharem o que se passa nos territórios. Existe uma dívida histórica de abandono para com  essas pessoas que precisa ser reparada. Assim como respeitar a suas histórias e singularidades.


Importante  ressaltar o sentimento de tristeza  em relação  às pessoas que morrem, como aquelas que são “morridas” e as que desaparecem, por diversos motivos, tais como as que vão: para o Sistema  Penitenciário,  para as Comunidades Terapêuticas, para os Hospitais Psiquiátricos, para os Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, para a Ala de Tratamento  Psiquiátrico, ou também as que fogem do território  por conta de problemas com o tráfico e outros.


 Ed Pirulito, Lili, Regina, Roberval, Pai Veio, Carol: #Presentes! Eles e muitos outros morreram por falta da implementação das políticas públicas para esse grupo populacional, que merecem ser citados e homenageados.


O Café com Escuta com o tempo foi se construindo com diversas pessoas em situação e com trajetória de rua e todas as resoluções que o grupo precisa tomar são conversadas e discutidas com a rua. 


Em junho/25, o Café com Escuta foi junto com um grupo de pessoas escolhido com a rua e  com representantes do Movimento da População em Situação de Rua ao Departamento de Saúde Mental Álcool e Outras Drogas/ MS apresentar suas necessidades e reivindicações sobre saúde mental elaboradas na semana da luta antimanicomial. Dessa reunião saiu como como deliberação a elaboração de um Manifesto em defesa de uma vida mais digna para as pessoas em situação de rua e pela implementação de políticas públicas de cuidados em liberdade, que está sendo recolhido assinaturas e já foi encaminhado a diversos locais. Em breve, será entregue oficialmente ao Ministério da Saúde. 


Assim, em 05/08/25,  foi realizada a celebração dos seis anos do Café com Escuta com muita alegria, homenagens aos que já se foram e com a certeza de que existe muita luta pela frente na conquista por mais dignidade e inclusão em suas vidas.

 
 
 

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