COLETIVO
INTERCAMBIANTES

Francisco Hora é um homem do seu tempo! 'Observador da natureza humana', é o modo como geralmente se apresenta, e justifica: cresci cercado de muita gente! Médico, especializou-se em pneumologia e, nesse campo, aprofundou seus estudos e trabalhos sobre o sono, condição fundamental para os seres vivos, qualquer que seja a espécie, incluindo os vegetais. Cuidadoso na avaliação e diagnóstico das perturbações do sono, Francisco Hora é inabalável na defesa da cronobiologia, isto é, o respeito que se deve ter pelo funcionamento do corpo e da mente. Há tempo para dormir, e há tempo para acordar, fundamentais para a saúde. Lembra, ainda, que o ritmo do sono varia para cada pessoa e, às vezes, para cada família. Adverte sobre os riscos produzidos pela medicalização do sono e, por extensão, a medicalização da vida.

Clarindo Silva chegou a Salvador aos nove anos de idade. Com ele vieram os pais e mais 11 irmãos. A família muito pobre, levou o menino a vender nas ruas os 'quitutes' preparados por sua mãe, "lavadeira de ganho". Clarido, em seu dizer, "fez de tudo", sem deixar de estudar. Queria ser advogado, mas a vida o levou para o jornalismo. Em 1971 assumiu o arrendamento de cantina no Pelourinho, que ganharia, no futuro, o sobrenome 'da Lua'. Desde então Clarindo Silva tornou-se o defensor irredutível do Pelourinho e de sua cultura. Recebedor das mais diversas honrarias, continua, aos 82 anos de idade, a defender a restauração do Pelô e sua ocupação por pessoas/vida. Seus livros, Memória da Cantina da Lua e Conversa de Buzú, estão esgotados.

Dante Marcello Claramonte Gallian - ou Dante Gallian, como assina seus trabalhos - é um historiador imerso no mundo da medicina. Diplomado pela FFLCH da UNIFESP, ingressou na Escola Paulista de Medicina da USP/UNIFESP, onde criou o Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde - o CeHFI - aprovado em 1999 pelo Conselho Universitário como Órgão Complementar da UNIFESP, no âmbito do qual foi inaugurado o Laboratório de Humanidades (LABHUM), "cujo objeto de estudo no cenário da formação humanística e da humanização em saúde", deu lugar à criação do Laboratório de Leitura (LABLEI), a partir da leitura e discussão de textos clássicos. Esta atividade ganhou espaço no meio acadêmico e extra-acadêmico, tornando-se importante campo de pesquisa e publicações. No livro 'A literatura como remédio - Os clássicos e a saúde da alma', publicado em 2017 pela Martin/Claret, o Prof. Dante Gallian relata, detalhadamente, a experiência acumulada ao longo de dez anos de intensa e fértil atividade.

Alessandro Marimpietri é psicólogo e Doutor em Ciências da Educação. Há mais de vinte anos tem se dedicado à formação de profissionais da educação e da saúde, além de cuidar de crianças, adolescentes e familiares. Em suas falas sobressai, sempre, a importância do período infantil, a partir do qual todas as pessoas se desenvolvem, e a importância da figura materna (ou de seu substituto na função). Nesta conversa, Alessandro evidencia a 'recusa' dos adolescentes para assumirem responsabilidades, e a perda do lugar de referência pelos pais e sua difícil relação com a escola. Autor de dois livros: 'Quando somos um só', sobre tornar-se pai, e 'O que é o tempo', para responder à interrogação de seu filho, ambos publicados pela Solisluna.

A Iyá Márcia de Ogum é a Ialorixá do Ilê Ewá Olodumare, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador, desde 2013. Professora de inglês, aposentada, tem desenvolvido suas atividades religiosas e sociais voltadas para a Paz entre as pessoas através de diversas atividades, dentre as quais a Coordenação do CONIRB - Conselho Inter-Religioso da Bahia - e do Núcleo Lauro de Freitas da RENAFRO - Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde -além de participação no Conselho Estadual de Cultura da Bahia. Defensora intransigente da independência religiosa através da 'convivência harmônica entre os diferentes', Mãe Márcia de Ogum tem sido incansável na defesa da Paz e na divulgação de sua religião, o candomblé.

Marcelo Veras é um psicanalista que transita pela fotografia e começa a se apresentar como escritor. Jovem médico, trabalhou com o coração em uma UTI migrando, em seguida, para a psiquiatria e, depois, para a psicanálise. Foi diretor do Hospital Juliano Moreira, Serviço Público Estadual da Bahia, por onde passavam todos - ou quase todos e todas - estudantes da área da saúde mental. Dessa atividade se originou um de seus livros, "A loucura entre nós", inspiração para filme homônimo. Nessa conversa, Marcelo situa a psicanálise no mundo e sua importância; informa sobre o trabalho que inaugurou e conduz na Universidade Federal da Bahia: Programa de Saúde Mental e Bem-Estar da UFBA (PsiU) - relatado no livro "Escutas do Indizível - A urgência subjetiva dos universitários". Em dois outros livros, Marcelo Veras aborda questões de extrema relevância: "Selfie, logo existo", sobre os atuais meios de comunicação e seus efeitos sociais, e "A morte de si", sobre suicídio. (Marcelo Veras, Luiz Felipe Monteiro, Rogério Paes Henriques (Orgs). Escutas do Indizível: a urgência subjetiva dos universitários. Salvador: EDUFBA, 2024.

Broide é um 'psicanalista que fala'. Há mais de 40 anos trabalha com os(as) vulnerados(as) em situação de rua, desde os tempos de sua aproximação com a Organização do Auxílio Fraterno (OAF), em São Paulo. A cidade é seu campo de pesquisa ao lado de sua prática docente e de clínica em consultório. Orientado por princípios psicanalíticos, sustenta que é na transferência que o Outro fala, ouve e é ouvido, em qualquer lugar da cidade. Jorge Broide compreende o consumo de substâncias psicoativas como alternativa para suportar o insuportável. Contrário às internações compulsórias acredita, e pratica, o cuidado em liberdade.

Paulo Amarante é o Cavaleiro Incansável de Bela Figura da Psiquiatria Brasileira. Conheceu Franco Basaglia e Giovanni Berlinguer. Com eles derrubou barreiras e rompeu preconceitos; aproximou a Bioética do sofrimento psíquico. Fundou associações dentre as quais a Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME); inaugurou cursos, escreveu livros e numerosos artigos; atravessou as fronteiras do Brasil, sempre em defesa dos Direitos Humanos e da Vida, de uma vida alegre e de oportunidades para todos e todas. Além disso, formou bandas musicais porque acredita que a arte é uma indiscutível alternativa à medicalização da vida.

Naomar Monteiro de Almeida Filho esteve à frente de seu tempo desde muito jovem. Durante sua formação médica enfrentou a psiquiatria asilar dominante na cidade de Salvador. Presidiu a Associação Psiquiátrica da Bahia, numa época em que a psiquiatria havia assumido forte liderança sob a bandeira nacional da Renovação Médica, em defesa da ética e do cuidado humanizado fora dos manicômios e menos farmacológico. Tornou-se epidemiologista, Professor do Instituto de Saúde Coletiva (ISC), da Universidade Federal da Bahia. Reconhecido internacionalmente por seus trabalhos na saúde mental. Mais recentemente dirigiu a Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica, na Universidade de São Paulo. Atualmente, é consultor Sênior da Secretaria de Saúde Digital do Ministério da Saúde. Nessa conversa, Naomar aborda, particularmente, as questões relacionadas com as redes sociais, sua importância e dificuldades.